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Quantas perguntas e orientações são ditas num centro cirúrgico e no pós-parto? Mas, e se a mãe estiver em um país onde não entende a língua e a equipe também não compreende o que ela fala? É isso que acontece com grávidas surdas e a gente que é ouvinte dificilmente imagina como a situação é tensa.
Por sorte, Najara Cabral – que teve o bebê na última quarta, 7 – é amiga de uma intérprete de Libras – Língua Brasileira de Sinais. E Valéria Menezes foi com ela ao Hospital e Maternidade Brasília, para ajudar a fazer a tradução no momento tão importante. (vídeo abaixo)
O hospital não tem intérprete de Libras e Valéria, que também é advogada, usou a Lei de Acessibilidade para entrar com a paciente na sala de cirurgia. Ela contou ao SóNotíciaBoa como isso foi importante para acalmar a mãe e o pai – que também é deficiente auditivo – e ajudar a equipe médica na comunicação com a Najara em momentos cruciais.
“No momento da aplicação da anestesia, fui explicando a posição que ela tinha que ficar, como fazer… traduzindo as orientações médicas”.
O choro da criança
“Quando a criança nasceu, que chorou, eu pude dizer pra ela, ‘tá chorando, eu ouvi o chorinho dela, acabou de nascer’. Eles perguntaram ‘como ela é? Perfeita? Tá tudo bem?’. Aí veio a pediatra fazer as medições e eu fui passando pra eles. Então, é um momento especial e tão importante”, lembrou Valéria.
“Na sala de recuperação ela se sentiu mal por conta da anestesia e eu falava pra ela que, o estava sentindo era dentro do esperado, por conta da medicação e que aquilo ia passar. Então, imagina se ela não tivesse esse apoio, como seria?”, questionou a intérprete de Libras.
O apoio de Valéria tranquilizou a mãe e também ajudou os profissionais de saúde.
“No quarto vem enfermeiro, nutricionista, pergunta se tem alergia, ou intolerância a alguma alimentação, para montar o cardápio… fala sobre os exames que a criança vai ter que fazer… então toda essa ponte de comunicação é importante. É um direito importante que precisa ser preservado”, alertou Valéria.
Tensão
Como toda mãe de primeira viagem, Najara ficou tensa na hora de amamentar a filha.
“No momento da primeira amamentação precisei interpretar o que as enfermeiras estavam explicando. Elas ensinam a mãe sobre como ter essa experiência de forma tranquila. Ela já estava no quarto e queria entender por que não tinha descido o leite, tava só no colostro. Fui explicar pra ela o que ela o colostro, pra ficar calma, que estava tudo bem”.
Outro momento importante da comunicação foi quando o bebê foi retirado do quarto e a mãe não entendia o que estava acontecendo.
Valéria já tinha ido pra casa dela, cuidar do filho que é autista. Foi preciso fazer uma chamada de vídeo para a interprete ajudar novamente a amiga.
“Tinham levado a bebê para fazer exames. Ela não sabia o motivo e ficou muito nervosa. Eu fui explicar que eles estavam desconfiando de icterícia… que ela ficasse calma. Ela estava nervosa porque ninguém conseguia se comunicar com ela”.
Por amizade e respeito
Valéria lembrou que fez tudo isso por amor à amiga.
“Aqui em Brasília a gente não ouviu falar em nenhum parto de surda que tivesse uma interprete participando. Eu não fui contratada pelo hospital. Ela é uma amiga minha e eu fui porque queria dar a ela e experiência que nós ouvintes temos de respeito, pra que ela se a sentisse acolhida, segura naquele momento importante”. concluiu Valéria Menezes.
Najara Cabral tem 33 anos e mora do Recanto das Emas, a 30 Km do Congresso Nacional, em Brasília. Ela ficou surda aos 4 anos por sequela da meningite e trabalha como digitalizadora.
O Pai, Joaquim Araújo, de 31 anos, é morador de Ceilândia e ficou surdo depois de uma queda aos 4 anos de idade. Ele também trabalha terceirizado como digitalizador.
A bebê
O parto da pequena Thalia Gabrielly foi um sucesso.
A menina fez os exames e é ouvinte!
Mãe e a filha já voltaram pra casa.
Assista ao vídeo editado pelo SóNotíciaBoa:
Por Rinaldo de Oliveira, da redação do SóNotíciaBoa